sábado, 17 de abril de 2010

"Passos" no SketchUp

O Google SketchUp é um software importante para os arquitetos e estudantes de arquitetura. Trata-se de uma ferramenta para representação tridimensional rápida, utilizada para configuração visual de objetos, cenários, edificaçõe e para as demais necessidades do profissional da área em um nível simplista de detalhamento, pois ele possui uma série de limitações gráficas e de usabilidade. Tivemos alguns workshops para a introdução ao SketchUp e como resultado do aprendizado, tivemos como demanda representar graficamente e tridimensionalmente a nossa performance, utilizando as ferramentas do programa em questão.

O desafio foi grande. O exercício foi executado em parceria com Fernanda Fernandes e Cíntia Braga. Primeiramente partimos para a análise dos vídeos e dos conceitos da nossa atuação e concluímos que o elemento principal da performance era a acuidade auditiva proporcionada pelos sons dos passos sobre o tablado. Desta maneira procuramos alternativas para representar o som, suas singularidades e seus ritmos.

Primeiramente representamos o som através de espectogramas, sintetizados pelo software Goldenwave, um editor de áudio. Assim pudemos analisar de forma visual as diferenças entre os passos pela forma e cores destes gráficos.



Ao vermos esta possibilidade de representação partimos para a organização formal e sequencial dos elementos da apresentação. Elaboramos um gráfico linear para representar através dos espaçamentos, o fluxo de pessoas que passavam pela rampa e os níveis verticais, por sua vez, representam a característica peculiar de cada passo (sua velocidade, ritmo e profusão).

A partir disto restou criar uma narrativa para a apresentação que correspondesse as sensações expressas pela performance. Trabalhamos uma brincadeira com a perspectiva, onde a estrutura tridimensional que acolhia as imagens da performance se misturava ao prolongamento das linhas do gráfico, se escondendo por trás das barras em um ponto de vista específico. Abaixo alguns testes desta representação com as diferentes perspectivas.


Por fim acrescentamos a qualidade colorística a ambientação tridimensional, reforçando o ritmo passado pela performance. As cores aplicadas às barras do gráfico são as cores do círculo cromático em 360º, passando pelas cores frias até as cores quentes e retornando ao seu estado inicial. Desta mesma maneira se passou a performance: no início representou-se a singularidade dos personagens, passando pela multiplicidade e profusão de movimentos, finalizando com a equalização dos passos em harmonia e ritmo mútuos.

Segue abaixo o resultado animado da representação tridimensional no SketchU que
também pode ser visualizado em meu Vimeo.



Performance "Passos"

A todo momento nos apropriamos dos meios em que convivemos, deixando nossas marcas, captando sensações, dialogando constantemente com aquilo que nós mesmos construimos. A proposição da performance como apropriação de um espaço específico da Escola de Arquitetura da UFMG, nos leva a crítica deste comportamento comum a todos nós.

O exercício da performance foi desenvolvido em grupo e nossa base conceitual é consequente da percepção acústica de uma ala específica da escola, que acabara de receber um novo aparato, uma rampa de compensado para o acesso de cadeirantes. Por consequência do próprio material, notamos que cada um que passava pela rampa emitia um som, pois cada um tinha um calçado, um ritmo, um jeito de andar específicos. Segue abaixo algumas imagens do cenário da performance.




Como próprio do homem pós-moderno, cada integrante do grupo individualizou-se como um personagem com características específicas. Cada um andando a sua maneira, com seu calçado, com seu ritmo, como se estivessem em um ambiente conturbado. Sendo assim, como apropriação deste espaço, a performance "Passos" traduz a singularidade e multiplicidade das expressões gestuais e seu resultado sonoro no percurso diário de cada indivíduo.

A projeção feita sobre a superfície vertical da rampa reforça a imersão de todos envolvidos na apresentação, quando redundantemente apresenta andarilhos das mais diversas características.

Logo abaixo o vídeo da exposição que também pode ser visto em meu Vimeo.
A performance pode ser também vizualizada pelo registro feito por um dos integrantes do grupo, Pedro flora através do vídeo no YouTube.



Créditos ao vídeo projetado
Ariane Vee - Mannheim City Feet


Panorama do Espaço Vivido

Após o estudo conceitual da percepção entre o espaço vivido e construído e com o resultado obtido com a análise do nosso percurso, nos foi proposto escolher um ponto específico do trajeto, que nos trouxesse sensações específicas e dignas de serem trabalhadas na próxima etapa de estudo. Foi proposto fazer o registro imagético deste lugar e conversar com alguém que passasse por alí para identificar a sua percepção, tentar entender como o outro percebe o espaço e transcender a realidade com esta outra visão. Com este registro de imagens por sua vez, foi criada uma narrativa panorâmica mesclando a minha percepção com a percepção do embaixador. O que o exercício promove é a extrapolação da linguagem do panorama convencional, abstraindo os conceitos da percepção.

"Panorama é o nome dado, grosso modo
, a qualquer vista abrangente de um espaço físico, ou seja, é uma ampla vista geral de uma paisagem, território, cidade ou de parte destes elementos, normalmente vistos de um ponto elevado ou relativamente distante."
[via Wiki]

Alguns exemplos de panorama convencionais podem ser encontrados nos links a seguir: Paris e Capela Sistina.

Em arquitetura é interessante este tipo de artifício, onde é comum o registro de ambientes em panorama. Algumas câmeras fotográficas inclusive possuem este recurso para facilitar o registro. Já o Quicktime VR da Apple é um software que possibilita a navegação de ambientes panorâmicos através de uma janela no computador com determinados comandos. Mas para isto, é preciso criar esta simulação em ambiente digital com softwares específicos, como o Stitcher Unlimited
da Autodesk, neste caso a ferramenta utilizada para o exercício proposto. Isto foi possível graças ao workshop realizado em salda de aula, ministrado pelas professoras Carmen e Ana Paula para este software.

Enfim, escolhi o trecho da Av. Afonso Pena que compreende ao Palácio das Artes e o Conservatório de Música da UFMG. Me chamam a atenção pelos contrastes arquitetônicos que estes dois estabelecimentos promovem na afonso pena. Um choque cultural na verdade, uma obra que representa o máximo do Modernismo e outra totalmente Neoclássica, ambas de beleza plástica inconfundível, e ao mesmo tempo em detrimento com o caos do trânsito local e a velocidade com que as pessoas passam por ali.

Em uma tarde entrevistei a Sra. Cleis, com idade média de 45 anos, que me passou detalhes sobre sua percepção daquele mesmo local. Por natureza ela não é uma pessoa apressada e ao passar por alí, lhe chama a atenção justamente a discrepância entre os elementos arquitetônicos construídos. Lhe agrada a beleza com que as formas foram elaboradas, as cores, a leveza, os ladrilhos da calçada. Para ela aquele lugar revela-se como um ponto de respiro acolhedor e convidativo.

Sendo assim, segundo a proposta do exercício, obtive como resultado a imagem abaixo, descrita pela narrativa que lhe procede. Uma miscelânea de formas e contrastes estruturais. Elementos de ambas as construções se misturando frente trânsito caótico.


"Me senti dividido em dois; Universos paralelos unidos pela realidade temporal; Realidades estéticas que dividem minha percepção; O adorno, a razão; Do caos a Emoção."

A navegação pelo panorama gerada pelo Stitcher Unlimited pode ser feita clicando aqui.


Mapa Mnemônico

Ao longo da evolução, o homem tem criado uma série de regras e subtefúrgios para estabelecer o convívio social, assim como para determinar a circulação e interação entre as esferas populacionais. Podemos observar hoje como são complexas as linhas de tráfego urbano, como são planejadas as cidades e suas vias. O Homem hoje tem à sua disposição todo este aparato e dele tira proveito como lhe convém, seja para a circulação em sua rotina de casa ao trabalho, ou para programas atípicos como passeios, ou para devaneios e meras perambulações em meio a profusão de informações imagéticas e sensoriais que o meio lhe provém - a própria teoria da deriva é capaz de explicar este segmento.

O arquiteto por sua vez, trabalha em conjunto com diversos profissionais, assim como o designer, e tem papel fundamental na criação destes complexos urbanos e do espaço geográfico construido. Já o usuário tem papel fundamental na utilização dos mesmos e consequentemente na sintetização dos resultados funcionais, sensoriais, fenomenológicos e nas diferentes formas de percepção que tais estruturas podem promover. Toda esta complexificação nos traz a uma reflexão sobre a dialética do espaço vivido e concebido, sobretudo sobre o espaço geográfico a partir da fenomenologia.

Para entender estes conceitos, nos foi proposto fazer um exercício de percepção no qual registramos através de desenho, as linhas de percurso entre o nosso lar e a Escola de Arquitetura da UFMG. Para isto criamos um Mapa Mnemônico, ou seja, um mapa baseado em nossas memórias, independente de representações cartográficas e sem qualquer fidelidade com a realidade. Abaixo segue a minha representação, já refinada em vetor, mostrando meu trajedo mnemônico de casa até a escola com alguns pontos de referência.

Em seguida foi feita uma sobreposição das linhas do meu mapa sobre o mapa real, extraido do Google Maps, onde é possível observar as diferenças e nuances entre as distâncias dos lugares representados.

Clique aqui para ser direcionado para navegação panorâmica.

A Fenomenologia, por sua vez, discute estas questões. Quando um espaço é representado de forma não congruente com a realidade cartográfica, não significa que tenha sido apenas erro de registro aleatóreo, ou total falta de domínio nas referências espaciais. Em resumo significa que "as experiências promovidas por aquele espaço/tempo promovem a distorção do espaço real para o vivido, interferindo substancialmente em sua percepção".

O artigo "Reflexões sobre o espaço geográfico a partir da fenomenologia", por Matusalém de Brito Duarte, Mestrando em Geografia pela UFMG, trata em detalhes estas questões.

terça-feira, 6 de abril de 2010

MAP e Hertzberger

Este pequeno artigo foi desenvolvido sob a demanda de analisar o Museu de Arte da Pampulha - MAP, após a visita da turma realizada no dia 26/03.

O projeto arquitetônico foi analisado sobre a ótica do livro Lições de Arquitetura - Herman Hertzberger, retratando conceitos como a apropriação, a forma, funcionalidade, flexibilidade e articulação entre o público e o privado. A compreensão destes conceitos se faz valer pela importância de se entender o papel do arquiteto na criação de ambientes que serão vivenciados e interpretados pelos usuários.

Fronteiras Entre o Espaço Público e o Privado

Estes valores ambíguos estão presentes em qualquer meio de convívio social, uma vez que todo e qualquer ambiente possui restrições quanto ao seu uso e apropriação espacial. Os limites entre o público e o privado são claramente vistos no Museu de Arte da Pampulha. Trata-se de um órgão manipulado pelo poder público governamental, responsável por sua manutenção, divulgação e segurança. No entanto, o conceito de público não se aplica totalmente ao ambiente em questão. O grau de acesso considerado semipúblico se restringe a um horário de funcionamento para a área interna, sendo a liberdade de acesso ao público caracterizada claramente apenas na área externa, onde o nível de demarcação territorial não impede o usuário de circular livremente pelos jardins, ter acesso a água potável dos bebedouros, e ter total liberdade para registros fotográficos etc.

Projetualmente o museu possui diversos elementos de articulação espacial muito característicos de um local de acesso público, como grandes áreas de circulação, distinção entre os banheiros masculino e feminino, grandes portas, a própria transparência promovida pela presença dos vidros no lugar de paredes opacas altera o nível de privacidade do local, tornando o acesso visual totalmente livre ao olhar e convidativo ao contato físico. Estes padrões foram previamente determinados pela característica de uso do local, antigamente como cassino, hoje apropriado como museu.

Sensações da Trama

Primeiramente, no local onde hoje está reservado o museu, funcionava um cassino, com toda sua estrutura acomodada para isto. Hoje tem-se o museu como nova apropriação do ambiente arquitetônico, com algumas pequenas adaptações projetuais equivocadas e não tão bem sucedidas, mas funcionais de certa forma. Esta nova apropriação revela o grau de flexibilidade que uma obra arquitetônica pode atribuir, porém neste caso, o ambiente não é adequado de maneira plena à sua nova função, pois uma série de atributos podem ser prejudiciais às obras que porventura possam ser ali expostas, como a exposição solar, por exemplo.

O projeto arquitetônico de Niemeyer associado a composição paisagística de Burle Marx é incontestavelmente sinônimo de modernidade, beleza e eficiência projetual. A interioridade e exterioridade desta urdidura que contempla o museu se completam de modo a exercer sobre o usuário diversas experiências, sugeridas e provocadas pela própria forma, plástica, estética e uso de materiais.

No âmbito da interioridade, a elucidação da experiência conjuntural se dá pela conformação estrutural do espaço como um todo, de modo provocativo e instigante. A presença de espelhos nas paredes, do pé direito elevado, das colunas, do mezanino, da presença da pedra semi-preciosa alocada a escadaria, tudo isso somado a luminosidade natural proporcionada pelos vidros em substituição das paredes (considerando que a visita ao local foi feita a luz do dia), traduzem de forma singular a emoção e sensação tão peculiares do local visitado. Já no ambiente exterior é indiscutivelmente notória a grande multiplicidade de formas e contrastes – como o encontro sinuoso da curva com o bloco, do concreto com o metal – que cada ponto de vista sobre a obra arquitetônica revela. O entorno paisagístico é provocador de surpresas e vislumbres, uma vez que os jardins são formados por espécimes variados da flora local, somado a um pequeno lago artificial com peixes exóticos, e principalmente, agregado a um conjunto de trilhas de percurso, que por sua vez estimulam a navegação espacial e imersiva do museu.

Considerações

É importante salientar como o arquiteto afeta os habitantes e usuários de um ambiente. Uma vez que a partir do projeto serão solucionadas as demandas específicas, serão criadas interrelações com o ambiente urbano em que a obra é inscrita, serão proporcionadas ao usuário experiências de vida eventuais e de uso diários. Não é possível restringir totalmente o uso e manipulação da obra à forma e a função. Deve-se ter em vista a polivalência significativa da mesma. O arquiteto deve projetar prevendo que haverão interferências múltiplas e singulares que dialogarão com a sua proposta.


Bibliografia

HERTZBERGER, Herman. Lições de Arquitetura. São Paulo: Editora Martins Fontes, 2002. ISBN 8533610343
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