terça-feira, 6 de abril de 2010

MAP e Hertzberger

Este pequeno artigo foi desenvolvido sob a demanda de analisar o Museu de Arte da Pampulha - MAP, após a visita da turma realizada no dia 26/03.

O projeto arquitetônico foi analisado sobre a ótica do livro Lições de Arquitetura - Herman Hertzberger, retratando conceitos como a apropriação, a forma, funcionalidade, flexibilidade e articulação entre o público e o privado. A compreensão destes conceitos se faz valer pela importância de se entender o papel do arquiteto na criação de ambientes que serão vivenciados e interpretados pelos usuários.

Fronteiras Entre o Espaço Público e o Privado

Estes valores ambíguos estão presentes em qualquer meio de convívio social, uma vez que todo e qualquer ambiente possui restrições quanto ao seu uso e apropriação espacial. Os limites entre o público e o privado são claramente vistos no Museu de Arte da Pampulha. Trata-se de um órgão manipulado pelo poder público governamental, responsável por sua manutenção, divulgação e segurança. No entanto, o conceito de público não se aplica totalmente ao ambiente em questão. O grau de acesso considerado semipúblico se restringe a um horário de funcionamento para a área interna, sendo a liberdade de acesso ao público caracterizada claramente apenas na área externa, onde o nível de demarcação territorial não impede o usuário de circular livremente pelos jardins, ter acesso a água potável dos bebedouros, e ter total liberdade para registros fotográficos etc.

Projetualmente o museu possui diversos elementos de articulação espacial muito característicos de um local de acesso público, como grandes áreas de circulação, distinção entre os banheiros masculino e feminino, grandes portas, a própria transparência promovida pela presença dos vidros no lugar de paredes opacas altera o nível de privacidade do local, tornando o acesso visual totalmente livre ao olhar e convidativo ao contato físico. Estes padrões foram previamente determinados pela característica de uso do local, antigamente como cassino, hoje apropriado como museu.

Sensações da Trama

Primeiramente, no local onde hoje está reservado o museu, funcionava um cassino, com toda sua estrutura acomodada para isto. Hoje tem-se o museu como nova apropriação do ambiente arquitetônico, com algumas pequenas adaptações projetuais equivocadas e não tão bem sucedidas, mas funcionais de certa forma. Esta nova apropriação revela o grau de flexibilidade que uma obra arquitetônica pode atribuir, porém neste caso, o ambiente não é adequado de maneira plena à sua nova função, pois uma série de atributos podem ser prejudiciais às obras que porventura possam ser ali expostas, como a exposição solar, por exemplo.

O projeto arquitetônico de Niemeyer associado a composição paisagística de Burle Marx é incontestavelmente sinônimo de modernidade, beleza e eficiência projetual. A interioridade e exterioridade desta urdidura que contempla o museu se completam de modo a exercer sobre o usuário diversas experiências, sugeridas e provocadas pela própria forma, plástica, estética e uso de materiais.

No âmbito da interioridade, a elucidação da experiência conjuntural se dá pela conformação estrutural do espaço como um todo, de modo provocativo e instigante. A presença de espelhos nas paredes, do pé direito elevado, das colunas, do mezanino, da presença da pedra semi-preciosa alocada a escadaria, tudo isso somado a luminosidade natural proporcionada pelos vidros em substituição das paredes (considerando que a visita ao local foi feita a luz do dia), traduzem de forma singular a emoção e sensação tão peculiares do local visitado. Já no ambiente exterior é indiscutivelmente notória a grande multiplicidade de formas e contrastes – como o encontro sinuoso da curva com o bloco, do concreto com o metal – que cada ponto de vista sobre a obra arquitetônica revela. O entorno paisagístico é provocador de surpresas e vislumbres, uma vez que os jardins são formados por espécimes variados da flora local, somado a um pequeno lago artificial com peixes exóticos, e principalmente, agregado a um conjunto de trilhas de percurso, que por sua vez estimulam a navegação espacial e imersiva do museu.

Considerações

É importante salientar como o arquiteto afeta os habitantes e usuários de um ambiente. Uma vez que a partir do projeto serão solucionadas as demandas específicas, serão criadas interrelações com o ambiente urbano em que a obra é inscrita, serão proporcionadas ao usuário experiências de vida eventuais e de uso diários. Não é possível restringir totalmente o uso e manipulação da obra à forma e a função. Deve-se ter em vista a polivalência significativa da mesma. O arquiteto deve projetar prevendo que haverão interferências múltiplas e singulares que dialogarão com a sua proposta.


Bibliografia

HERTZBERGER, Herman. Lições de Arquitetura. São Paulo: Editora Martins Fontes, 2002. ISBN 8533610343
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